terça-feira, 19 de agosto de 2014

A Grande Guerra e a Figueira da Foz. Uma exposição

A Grande Guerra e a Figueira da Foz - Exposição de um pequeno espólio da Casa Havanesa com espécies fotográficas (e não só) relativas à época (1914-1918). Patente na Biblioteca Municipal Pedro Fernandes Tomás.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Uma Guerra que o século XX português tudo fez para esquecer

A I Guerra Mundial não foi, definitivamente, uma gesta gloriosa para Portugal. A participação nacional nos vários palcos do conflito, em África ou na Europa, teve raros momentos de glória e regra geral saldou-se por um desastre. Seja nos campos de batalha, seja ao expor as fragilidades gritantes das nossas Forças Armadas, impreparadas e desorganizadas, sem dúvida afetadas pelo caótico clima político da I República, que só entre 1914 e 1919 nos deu nove governos nove. Em suma, foi literalmente para esquecer.

Esse esquecimento foi facilitado e prolongar-se-ia pelo Estado Novo, que durante quarenta anos tudo fez para não se falar muito no assunto. E assim (não) se fez: nem nos jornais, nem nas artes, nem na Academia, a palavra de ordem foi o silêncio. A narrativa oficial do regime era a glória do Império, a História Pátria era uma sucessão de heróis, conquistas e vitórias e na escola falava-se apenas por alto dos mártires das trincheiras (regra geral esquecendo-se África e glorificando o desaire do Corpo Expedicionário na Flandres), em diversas cidades foram erigidos monumentos aos mortos da Grande Guerra, empreitadas promovidas sobretudo por comissões de antigos combatentes, mas para todos os efeitos a nossa passagem por essa guerra foi remetida para o arquivo dos assuntos embaraçosos. E isto é particularmente evidente, por exemplo, no cinema.

De facto, pelo que pudemos perceber, apenas um (1!) filme português do século XX aborda a presença portuguesa na I Guerra, e são apenas vinte minutos inseridos numa comédia romântica... Trata-se da longa metragem "João Ratão", de 1940, um filme de Jorge Brum do Canto, com António Silva, Óscar de Lemos e Maria Domingas nos papéis principais. Segundo informação da RTP, trata-se de uma «comédia musical como raro exemplo da participação portuguesa na I Grande Guerra, única em representação ficcional. Para tal, foram construídos - nos estúdios da Tobis Portuguesa - um abrigo subterrâneo, uma trincheira e as linhas alemãs, por soldados do exército sob orientação de oficiais.»

A descrição de José de Matos-Cruz: «A partir de uma opereta, a história amorosa dum soldado português, João Ratão, que regressa da frente de batalha na Flandres, sendo envolvido em intrigas motivadas pela inveja, quanto a Vitória, uma rapariga do povo que namorara através de cartas escritas por outros... Evocação do patético cenário da guerra (1914-18), e a faina dos madeireiros, no deslumbrante Vale do Vouga.» (fonte)

O filme está na íntegra no You Tube:

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Centenário. Evocação oficial em tom heróico

A Grande Guerra e as Artes Plásticas. Exposição em Lisboa


A assinalar o centenário da I Guerra Mundial (1914/18), a Biblioteca Museu República e Resistência inaugura em 28 de junho, pelas 16 horas, no Espaço Cidade Universitária, a exposição “Grande Guerra – 100 anos”.

Trata-se de uma mostra composta por obras alusivas a esta efeméride, executadas pelos artistas plásticos Adão Rodrigues, Barbara Lehmann, Bela Mestre, Dinaguiar, Domingos Oliveira, Luís Dias, Lurdes Cabral, Mário Silva, Óscar Alves e Pé Leve.

A mostra estará patente até 29 de agosto (...)

Mais informação

O Soldado Português na I Grande Guerra. Uma exposição na Guarda



Exposição Fotográfica - "O Soldado Português na I Grande Guerra"

No ano do centenário do início da I Grande Guerra, o Museu da Guarda em colaboração com a Direção Central da Liga dos Combatentes e a Delegação da Guarda, apresentam a exposição "O Soldado Português na I Grande Guerra" .
Trata-se duma exposição de fotografias onde se podem observar as condições de vida e de combate dos nossos soldados, o equipamento utilizado e as consequências devastadoras dos combates.
Além das fotografias são apresentadas peças da coleção de militaria do Museu da Guarda como máscaras anti-gás, uniformes, armas e acessórios.
A exposição inaugura dia 17 julho pelas 18 horas e estará patente até final do mês de agosto. (in nota de imprensa do Museu da Guarda 15-07-14)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Mulheres na Guerra. Enfermeiras portuguesas nas trincheiras

Sugestão de leitura. Uma excelentíssima reportagem histórica.

Expedição de 1917 - Desembarque
em Mocimboa da Praia (Cabo Delgado)
A não perder, esta reportagem de Manuel Carvalho e Manuel Roberto para o jornal Público. Como já aqui referimos várias vezes, a participação mais dramática de Portugal na Grande Guerra terão sido, não os campos sangrentos da Flandres, mais próximos e mediatizados - com a Batalha de La Lys à cabeça de uma participação, em batalha, fugaz e desastrosa -, mas sim os vários palcos africanos, onde o conflito com a Alemanha foi mais intenso e duradouro. 

O Norte de Moçambique e o sul de Angola, que confrontavam com territórios sob controle germânico, foram os principais cenários dessa campanha a todos os níveis - ou quase, se tivermos em conta que realmente conseguiram manter as fronteiras ultramarinas intactas...- também infeliz das Forças Armadas portuguesas, e que só recentemente começou a ser estudada e divulgada seriamente:

«Na Grande Guerra de 1914-18, o exército português sofreu a sua maior derrota em África desde Alcácer Quibir. No Norte de Moçambique morreram mais soldados portugueses do que na Flandres. Não tanto pela razia das balas alemãs. Mais pela fome, pela sede, pela doença e pela incúria. Minada pela vergonha, a I Guerra em Moçambique acabou votada ao esquecimento. Não tinha lugar numa nação que até 1974 sonhava com um império ultramarino. Numa viagem de mais de 2500 quilómetros, o PÚBLICO foi à procura dessa guerra sem rosto. Os cemitérios dos soldados foram profanados ou são lixeiras, mas o milagre da tradição oral conservou as suas memórias até hoje.». Continua aqui: A Grande Guerra que Portugal quis esquecer - Público

domingo, 27 de julho de 2014

Televisão pública assinala Centenário em grande

«Mais uma vez, a estação de serviço público assinala os momentos marcantes da história de Portugal e da Humanidade. No próximo dia 28, a RTP2 evoca o centenário da I Guerra Mundial com debates, documentários e concertos. Um canal com memória, ao lado dos momentos incontornáveis da história da Humanidade.(...)». RTP no centenário da I Grande Guerra - EXTRA! - RTP

sexta-feira, 18 de julho de 2014

"Até Nos Vermos Lá em Cima"

«(...) Na minha adolescência li sobre a Primeira Guerra Mundial e essa guerra abalou-me, principalmente pelas suas imagens. É uma guerra de uma barbárie extrema, e o que mais me impressionou foi a juventude dos soldados franceses. Eu devia ter 17 anos e identifiquei-me com eles. Já adulto, e enquanto intelectual, o que me interessou foi perceber que esta guerra que me tinha tocado por razões psicoafectivas tinha também uma grande importância geopolítica. Era a Grande Guerra que fazia com que o século XIX acabasse em 1914 e que o século XX começasse a partir de 1918. Era a placa giratória entre dois séculos, entre dois países, a França antes da Guerra e a França do pós-Guerra, e entre duas concepções da Europa, a Europa imperial e a Europa moderna como a viríamos a conhecer. De facto, os dois interesses convergiram: o afectivo e literário e o político e social.»: A Primeira Guerra Mundial vista do retrovisor - PÚBLICO

sábado, 5 de julho de 2014

Congresso "The Great War in África". 14 e 15 de Julho na Universidade Nova de Lisboa

Soldados camaronenses na I Guerra (imagem New York Times, Co. - Library of Congress, Serials and Government Publications Division)

«The Great War Africa Association and The International Network for the Study of the Great War in Africa are combining to host the 2014 conference on 14 and 15 July in Lisbon.
In recognition of the growing interest in the African theatres of the War, an interest which has spread across the globe and into various fields of study, the two organisations focusing on the Great War in Africa are continuing to facilitate the sharing of knowledge and information on the campaigns in Africa.
The conference aims at bringing together interested persons, both amateur and professional, to share and extend their knowledge of the war in Africa. The proceedings of the conference will be published.

In particular, contributions will be sought from those working on:
-Military, political, social, economic or cultural themes around the campaigns
-The dispute of empires including the mobilisation and strategy of the European powers towards the war in Africa
-Heritage, including archival, archaeological, documentary and family history
-The impact of the campaign or aspects thereof, including representations of the campaign through time, memory studies, re-enactment, literature and film»

Toda a informação aqui

sábado, 5 de abril de 2014

Centro comercial de Viseu assinala Centenário

«O Palácio do Gelo Shopping, em parceria com o Regimento de Infantaria 14 e a Liga dos Combatentes, propõe, a partir do próximo dia 28 de Março, uma exposição alusiva ao centenário da 1ª Guerra Mundial. Patente até ao dia 7 de Abril, no piso 0, a mostra apresenta, através de imagens e textos descritivos, a realidade vivida durante o primeiro conflito global do século XX, proporcionando um olhar histórico sobre uma guerra na qual participou a então jovem República Portuguesa.» (fonte)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A guerra que mudou o século

Autor do volume Der Grosse Krieg: Die Welt 1914 - 1918 (A Grande Guerra: O Mundo entre 1914 e 1918), o cientista político Herfried Münkler fala à Deutsche Welle sobre a memória da Primeira Guerra, o papel desempenhado pela Alemanha no contexto do conflito armado e as lições que a Guerra deixou. Münkler é um dos mais importantes especialistas alemães que se dedicaram a uma análise profunda da Primeira Guerra Mundial e do significado do conflito para a história posterior da humanidade.

Deutsche Welle: Desde o início de 2014 a mídia tem lembrado a eclosão da Primeira Guerra Mundial, há 100 anos. A razão disso é realmente o centenário da Guerra ou estamos vivenciando uma nova forma de elaboração da história?

Herfried Münkler: Uma coisa não exclui a outra. Muitas vezes essas comemorações são uma oportunidade de se debruçar com calma e de maneira mais profunda sobre um tema. E isso mostra que a "Grande Guerra", como os britânicos, franceses e italianos chamam o conflito, deu o tom da violência que assolaria o século 20. É possível aprender muito estudando sobre a guerra, sobretudo sobre o que não se deve fazer. Penso que este tenha sido realmente um grande acontecimento, ao qual a Europa deve se deter para avaliar o que aconteceu de errado no século 20, e fazer melhor no século 21.

Na Alemanha, chamamos essa guerra que aconteceu entre 1914 e 1918 de "Primeira Guerra Mundial". Por que o título do seu livro é "A Grande Guerra"?

O conceito "Grande Guerra" tem, a princípio, algo estranho. E tem também um caráter de alerta, pelo menos para os ouvidos alemães. Pois foi a Guerra que, como guerra europeia, determinou o século 20. É possível dizer: sem esta guerra, não teria havido a Segunda Guerra Mundial, possivelmente também não teria havido o nazismo, nem o stalinismo, nem a tomada de poder bolchevique em Petrogrado [hoje São Petersburgo]. Ou seja, teria sido um século totalmente diferente. De forma que o termo "Grande Guerra" é adequado.

Se a Primeira Guerra Mundial teve esse efeito de alerta para todo o século 20 que se seguiu, por que ela é tão pouco presente na elaboração do passado alemão? Pelo menos muito menos que a Segunda Guerra Mundial.

É preciso diferenciar: nos países vizinhos da Europa Ocidental, como Itália, França e Reino Unido, a Primeira Guerra Mundial está muito presente como a Grande Guerra. Isso tem a ver com o fato de que as perdas humanas causadas por esta guerra foram maiores para estes países do que as da Segunda Guerra.
Na Alemanha isso é diferente, pois a Segunda Guerra Mundial estava atrelada a deslocamentos forçados, às destruições causadas pelos bombardeios, aos crimes praticados pelos alemães e à culpa alemã. Quanto mais você se locomove rumo ao Leste Europeu, mais presente é a Segunda Guerra Mundial na memória. É possível falar de um abismo entre Leste e Oeste na cultura da memória na Europa.

Um século depois da eclosão da Guerra, ressurge o debate sobre a culpa pelo conflito. O livro Os Sonâmbulos, do historiador australiano Christopher Clark, desencadeou esta discussão. Ele revida a tese, aceita há tempos, de que a culpa teria sido somente dos alemães, apontando como as grandes potências estavam inaptas a evitar a Guerra que começou nos Bálcãs. Qual é sua posição nesse debate sobre a culpa pela Guerra? Esse debate leva a algum lugar?

Não acho que o conceito de culpa seja útil neste contexto. Trata-se de um conceito moral ou talvez jurídico, formulado no artigo 231 do Tratado de Versalhes, segundo o qual toda a culpa é creditada à Alemanha. Mas esta é uma discussão que não precisamos levar adiante hoje em dia. Ou seja, faz mais sentido falar sobre a responsabilidade e voltar os olhos para as estimativas e decisões incorretas daquele momento. Isso é o que acredito ser útil hoje para aprender alguma coisa 100 anos depois da Guerra.

Qual foi o papel do Império Alemão naquela época na Europa Central?

A Alemanha não compreendeu seu papel peculiar de centro geopolítico. Não se pode dizer que não teria acontecido uma guerra aqui ou outra acolá no século 20, mas teria sido possível localizar essas guerras. O que os alemães fizeram foi reunir diversos caldeirões de conflito, ou seja, o conflito manifesto nos Bálcãs, com o conflito latente, mas de forma alguma agudo em torno da Alsácia-Lorena, e também o conflito em torno do controle do Mar do Norte. Isso foi uma burrice política óbvia.

O senhor diz que não se deve perder a periferia de vista. Devemos nos preocupar atualmente com o que acontece na Crimeia? Pode eclodir lá uma nova guerra mundial, 100 anos depois da Primeira?

Precisamos nos preocupar, mas não por causa da ameaça de uma guerra, mas pelas tensões políticas e pelas consequências das sanções econômicas. Mas principalmente porque fica claro aqui que o poder militar ainda é um fator determinante da política europeia – naturalmente apenas na periferia. O governo alemão não deixou o conflito acontecer, mas se envolveu em suas diversas etapas várias vezes como mediador – e isso não porque tenha relevância militar, mas apenas por causa de seu peso econômico e político.

No seu livro, o senhor aponta também a Ásia como região de conflito em potencial. O senhor chega a comparar a China de hoje com o Império Alemão da época.

Digno de nota é o fato de a China ser um país tão grande e tão forte, sobretudo economicamente, embora não se sinta reconhecida do ponto de vista político. Essa é uma situação que se assemelha em muitos aspectos ao Império Alemão de 1914. Pode-se dizer: muita coisa que deu errado na Europa de 1914 poderia também dar errado na China hoje. Ou seja, os políticos e estadistas chineses deveriam analisar detalhadamente a história que precedeu a Primeira Guerra Mundial e a Crise de Julho [desencadeada pelo atentado contra o casal herdeiro da coroa austríaca] a fim de não cometerem os mesmos erros de então.

Ressurgiu na Alemanha a discussão a respeito de uma participação mais intensa do país nas missões militares europeias. Como o senhor vê isso, tendo em vista nosso próprio passado? Fica bem para a Alemanha participar destas missões exatamente por causa do seu passado? Ou não?

Invertemos a pergunta: Fica bem para a Alemanha, tendo em vista seu passado, ficar de fora de tudo e, aos olhos dos vizinhos europeus, parecer covarde ou oportunista? Os outros puxam o carro em que os alemães seguem sentados e vão ficando cada vez mais gordos e se deliciando. Ou seja, acredito que esse papel especial, que tanto a Alemanha Ocidental quanto a extinta Alemanha Oriental desempenharam ,e com razão, precisa definitivamente acabar 25 anos depois da Queda do Muro de Berlim. Precisamos ser um povo, uma nação como as outras. Não precisamos nos destacar, mas não devemos fugir da raia quando somos requisitados.

Herfried Münkler é professor de Ciências Políticas na Universidade Humboldt de Berlim.
É autor de A Grande Guerra: O mundo entre 1914 e 1918. Editora Rowohlt, 2013.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

"No Man's Land - 100 years of the Great War in literature and the arts" na Universidade do Minho

XIII Jornadas de Inglês

Auditório do ILCH (Instituto de Letras e Ciencias Humanas), campus de Gualtar, Braga

Segunda-feira, 07-04-2014

O Departamento de Estudos Ingleses e Norte-Americanos da Universidade do Minho realiza a 7 de abril as XIII Jornadas de Inglês, no campus de Gualtar, em Braga. A iniciativa tem o tema "No Man's Land - 100 years of the Great War in literature and the arts", incidindo assim na representação da guerra na literatura e nas artes, no âmbito do 100º aniversário do início da I Guerra Mundial.

Programa e mais informação aqui: ILCH - Universidade do Minho

domingo, 30 de março de 2014

"A Europa entre Guerras". Uma jornada de reflexão e debate em Lisboa

3 e 4 de Abril de 2014 
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/ UNL 
Edifício I&D, Piso 4, Salas Multiusos 2 e 3
Entrada livre

Mais informações em http://europebetweentheworldwars.wordpress.com 

Programa 

09h30-10h00 Recepção aos participantes/ Registration 

10h00-11h00 Conferência de abertura/ Lecture | Sala multiusos 2
Coming out from wars. Europe in post World Wars - Patrizia Dogliani, Università di Bologna

11h00-13h00 Nacionalismo e internacionalismo | Sala multiusos 2
Moderação: Maria Fernanda Rollo, FCSH e IHC, FCSH-UNL

  • Winners in the war, defeated in peace. The legacy of the Great War as laceration of Italian society: from the “two red years” to the reactionary drift of fascism (1919-1925) - Mauro Pellegrini, White War Museum – Temù, Italia 
  • The International Battle for Grain. Italy, the League of Nations and the struggle for regulating the production of wheat during the Great Depression - José Antonio Sánchez Román, Universidad Complutense de Madrid, España 
  • Nationalism and internationalism. The socialist Spanish intellectual elites and the discourses of the nation - Aurelio Martí Bataller, Universitat de València, España 
  • O Comintern e Portugal - João Arsénio Nunes, Instituto Universitário de Lisboa 


11h00-13h30 Espaços e representações culturais | Sala multiusos 3
Moderação: Carlos Vargas, IHC, FCSH-UNL

  • Conflito e compromisso no campo arquitectónico entre guerras - Joana Brites, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra The role of gardens and public parks in the reconstruction of cities destroyed by war: an overview - Ana Duarte Rodrigues, CHAM, FCSH-UNL 
  • A dança, uma arte em expansão entre Guerras - Maria João Castro, Instituto de História da Arte, FCSH-UNL 
  • Entre nacionalismo e autoritarismo: os discursos sobre a cultura musical em Portugal no período entre Guerras (1919-1939) - Luís Miguel Santos, CESEM, FCSH-UNL 
  • Spain and the International Institute of Intellectual Co-operation (1926-1939) - Diana Sanz Roig, Universitat Pompeu Fabra, España 
  • Nacionalismo desportivo entre guerras – as seleções como instrumento de unidade nacional - César Rodrigues, CEIS20 – Universidade de Coimbra 


13h30-15h00 Pausa para almoço/ Lunch

15h00-18h00 Pensamento e ideologias | Sala multiusos 2
Moderação: Maria Manuela Tavares Ribeiro, FL-UC e CEIS20 – Universidade de Coimbra

  • Politics beyond Liberalism? Max Weber’s Political Thought and the German Critical Juncture of 1917-1919 - Pedro T. Magalhães, CESNOVA, FCSH-NOVA 
  • Ideias federais na Europa entre guerras - José Gomes André, Universidade de Lisboa “Pela Paz”! A ideia de “Estados Unidos da Europa” entre guerras. Uma visão a partir da diplomacia portuguesa - Isabel Baltazar, FCSH-UNL 
  • L’universalità di Roma. A ideia de Europa e as tentativas de constituição duma internacional fascista - Mario Ivani, IHC, FCSH-UNL 


16h30-16h45 Pausa / Pause
Moderação: Teresa Nunes, FL-UL e IHC, FCSH-UNL

  • O fascismo italiano e os jornalistas portugueses: Os casos de Augusto de Castro, Homem Cristo Filho, António Ferro e João de Castro Osório - Clara Isabel Serrano, CEIS20 – Universidade de Coimbra
  • Contribution of British West African Colonies to British Reconstruction in the Inter-war Period - Fewzi Borsali, University of Adrar, Algeria 
  • Anti-semitismo em Portugal: João Lúcio de Azevedo e Gilberto Freyre - Ana Rita Veleda Oliveira, FL-UC/CES – Universidade de Coimbra 


15h00-17h00 História e Memória | Sala multiusos 3
Moderação: Isabel Maria Freitas Valente, CEIS20 – Universidade de Coimbra

  • Médicos milicianos portugueses nos palcos da grande guerra - Francisco Miguel Araújo, CITCEM, Faculdade de Letras da Universidade do Porto 
  • Uma “epopeia maldita” da “tropa d’África”? Memórias da Grande Guerra sobre Além-mar - Sérgio Neto, CEIS20 – Universidade de Coimbra 
  • Jünger e Haffner: Contradições e ambiguidades nas Memórias Alemãs da I Guerra Mundial - Marisa Fernandes, ISCSP-UL 
  • A espanhola polaquizada - Sofía Casanova Lutosławska, a testemunha da história da Europa entre Guerras - Anna Olchówka, Universidade de Wroclaw, Poland 
  • Um Olhar Singular: Mundividência do jovem Marcelo Caetano antes do conflito e do poder – 1929-1939 - Márcio Barbosa, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra 


4 de Abril / April 4 

09h00-10h15 Regimes políticos, religião e autoritarismo | Sala multiusos 2
Moderação: Alice Cunha, IHC, FCSH-UNL

  • Religion and Politics: Revisiting the Origins of Political Regimes in Western Europe, 1870s-1930s - Tiago Fernandes, Departamento Estudos Políticos – Universidade Nova de Lisboa 
  • Religião e Política Entre Guerras. Existência e fim do Centro Católico Português (CCP): uma releitura da sua evolução histórica (1919-1940) - Paula Borges Santos, IHC, FCSH-UNL 
  • Cunha Leal e os regimes totalitários nos anos 30 - Júlio Rodrigues da Silva, FCSH-UNL 


10h15-10h30 Pausa/ pause

10h30-12h00 Espanha entre guerras | Sala multiusos 2
Moderação: Ruben Serem, IHC, FCSH-UNL

  • The Phenomenology and Logic of Revolutionary Violence: Andalusia during the ‘Bolshevik Triennium’, 1918-1920 - James Matthews, University College Dublin, Ireland 
  • The Catalan Autonomist project of 1919 and its failure - Àngels Carles-Pomar, Universitat Pompeu Fabra, España 
  • Spanish socialism within republican democracy. Reformism and radicalization from a regional perspective (1931-1936) - Sergio Valero Gómez, University of Valencia, España 
  • A ditadura portuguesa vista pela II república espanhola - Tiago Tadeu, CEIS20 – Universidade de Coimbra  

09h-12h00 Vencer a guerra, ganhar a paz | Sala multiusos 3
Moderação: Ana Paula Pires, IHC, FCSH-UNL

  • Guerra à ciência em tempo de paz (1918-1939) - Cláudia Ninhos, IHC, FCSH-UNL 
  • Entre Nova Iorque e Berlim: mapeamento do campo da educação comparada na Europa entre-guerras - Luís Grosso Correia, Universidade do Porto 
  • Espaços e representações culturais e científicas numa geração europeizada ou os bolseiros no estrangeiro da Junta de Educação Nacional (1929/36) - Quintino Lopes, CEHFCi – Universidade de Évora 


10h15-10h30 Pausa/ Pause
Moderação: Aniceto Afonso, IHC, FCSH-UNL

  • A Visão da “Guerra Total” no Pensamento Militar Português - António Paulo Duarte, Instituto da Defesa Nacional/IHC 
  • A Inovação Militar no período entre guerras e o início da II Guerra Mundial - Luís Barroso, Instituto de Estudos Superiores Militares 
  • Os Açores entre Guerras (1919-1939) - Sérgio Rezendes, Universidade dos Açores 
  • Mustafa Kemal Atatürk e o Processo de Modernização da Turquia (1923-1938) - João Nobre, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra


Fonte:  II Encontro Anual A Europa no Mundo - A Europa entre Guerras (1919 - 1939)

domingo, 9 de março de 2014

O horror do gás

"Gassed", de John Singer Sargent, representa as consequências de um ataque de gás mostarda na I Guerra
Entre tantas outras novidades, a I Guerra apresentou também ao mundo o horror da guerra química moderna em larga escala: o inimigo invisível que fez razias nos campos de batalha europeus e marcou todos os que passaram pelas trincheiras. A utilização de gases e venenos na guerra é uma prática milenar* e nas décadas que antecederam 1914 já tinham sido assinados vários acordos limitando ou proibindo a sua aplicação militar, a Grande Guerra, no entanto, constituiu a oportunidade ideal para os generais testarem o método em doses industriais, tendo em conta sobretudo as características de imobilidade da própria guerra de trincheiras que imperou nos teatros de operação europeus.

Gás lacrimogénio, gás mostarda (gás amarelado que queimava a pele e causava danos irreparáveis nos pulmões), ou agentes químicos letais como o fosgénio e o cloro, tornaram-se nomes terrivelmente familiares naquela altura. Estima-se que as armas químicas mataram ou feriram cerca de 1.3 milhões de pessoas, incluindo dezenas de milhares de civis desprotegidos das zonas gaseadas. Estas armas químicas foram primeiro utilizadas nas trincheiras pelo exército francês (gás lacrimogénio) e os alemães não tardaram a responder com a utilização maciça de cloro. No início limitavam-se a abrir barris de cloro, que espalhavam ao sabor do vento, quando este soprava na direção do inimigo, mas cedo ambos os lados aprenderam a adaptar obuses de artilharia, carregando-os de fosgénio ou de outro tóxico qualquer, desencadeando uma corrida frenética de desenvolvimento de métodos de matar com gás. 

"Wounded Soldier", de Otto Dix, pintor e soldado alemão da I Guerra
(1891 - 1969)
Ao mesmo tempo, embora mais lentamente, foram também sendo desenvolvidos aparatos de defesa pessoal e surgiram as primeiras máscaras com filtros muito rudimentares, mas nos primeiros anos de guerra a esmagadora maioria dos soldados e das populações estavam completamente desprotegidos, não sendo raro embeber lenços em urina (a amónia da urina neutralizava em parte os efeitos do cloro). 

Mas a devastação da guerra química moderna foi brutal e a sua própria natureza insidiosa, contrária a uma prática bélica minimamente ética, acabou por levar a uma das mais positivas consequências do conflito, o Protocolo de Genebra, firmado em 1925, que bania completamente as armas químicas ou biológicas. O tratado foi quebrado diversas vezes no século XX - na II Guerra ou na guerra Irão-Iraque, por exemplo -, mas tornou-se um compasso ético internacional para a maioria das forças armadas convencionais do mundo.

O horror da guerra química em larga escala ficou também plasmado na arte e na literatura. Um exemplo dos mais marcantes é o poema Dulce et Decorum Est, de Wilfred Owen, considerado o grande poeta inglês da I Guerra:

Bent double, like old beggars under sacks,
Knock-kneed, coughing like hags, we cursed through sludge,
Till on the haunting flares we turned our backs;
And towards our distant rest began to trudge.;
Men marched asleep. Many had lost their boots;
But limped on, blood-shod. All went lame; all blind;
Drunk with fatigue; deaf even to the hoots  
Of tired, outstripped Five-Nines that dropped behind.
Gas! Gas! Quick, boys! – An ecstasy of fumbling,
Fitting the clumsy helmets just in time;
But someone still was yelling out and stumbling,
And flound'ring like a man in fire or lime...
Dim, through the misty panes and thick green light,
As under a green sea, I saw him drowning.
In all my dreams, before my helpless sight,
He plunges at me, guttering, choking, drowning.
If in some smothering dreams you too could pace
Behind the wagon that we flung him in,
And watch the white eyes writhing in his face,
His hanging face, like a devil's sick of sin;
If you could hear, at every jolt, the blood
Come gargling from the froth-corrupted lungs,
Obscene as cancer, bitter as the cud
Of vile, incurable sores on innocent tongues,
My friend, you would not tell with such high zest
To children ardent for some desperate glory,
The old Lie; Dulce et Decorum est
Pro patria mori.

Wilfred Owen (8 October 1917 - March, 1918)



* Embora haja registos mais antigos no Oriente (sobretudo na China) um dos primeiros registos históricos da utilização bélica de gás tóxico no mundo ocidental remonta à Guerra do Peloponeso, entre Esparta e Atenas, no século V a.C.. Fazendo cerco a uma cidade ateniense, os espartanos queimaram pilhas de madeira, resina e enxofre, junto às muralhas da cidade sitiada.

Reaproximações e desmistificações. Associação de Setúbal promove aproximação à Alemanha em tempo de Centenário

Inscrições abertas - intercâmbio na Alemanha assinala centenário da I Guerra Mundial

No ano em que se começa a assinalar o centenário da Primeira Guerra Mundial, a associação cultural e juvenil Experimentáculo, de Setúbal, promove um intercâmbio sobre o assunto. Deste modo, «estão abertas inscrições para 10 jovens, dos 15 aos 30 anos, que gostem de história, queiram conhecer novas pessoas, descobrir uma cultura diferente e adquirir novas competências pessoais e profissionais».

O projeto vai decorrer entre 13 e 23 de Abril, na cidade alemã de Oldenburg e reunirá 45 jovens de Portugal, Alemanha e França. A participação custa 150 euros e «contempla a viagem, a estadia, a alimentação e todas as actividades previstas no programa: workshops, visitas, encontros, etc». As inscrições podem ser efectuadas através do email experimentaculo@gmail.com ou do telefone 964724671.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Uma guerra sem (poderes) inocentes

A Temas&Debates e o Círculo de Leitores, como já aqui foi referido neste blogue, colocaram já no mercado livreiro português a última obra da historiadora canadiana Margaret MacMillan - bisneta do primeiro-ministro britânico à altura da I Guerra, David Lloyd George -, um livro que tem dado muito que falar e que tem marcado o tom no sentido de uma nova leitura em relação à I Guerra e sobretudo às suas causas mais imediatas. A "culpa", como se perceberá, é bem mais disseminada do que parece e os alemães não são, definitivamente, os únicos "maus" de uma "fita" em que é difícil encontrar inocentes...

Segundo a autora de «A Guerra que acabou com a Paz», que passa a pente fino os catorze anos que precederam o conflito e transcende o habitual maniqueismo anti-germânico, «Parece-me que a maior responsabilidade é imputável à determinação insensata da Áustria-Hungria em destruir a Sérvia em 1914, à decisão da Alemanha no sentido de a apoiar totalmente e à impaciência da Rússia por mobilizar". No mesmo parágrafo, a autora defende ainda que a França e a Grã-Bretanha não desejavam a Guerra, «embora seja possível afirmar que poderiam ter-se esforçado mais para a impedir (...)». Continua aqui: Margaret MacMillan explica como a Europa começou a I Guerra Mundial | Cultura | Diário Digital

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Holocausto equino

«Ao fim dos quatro anos da guerra que começou em 1914, o mundo contabilizava suas vítimas: 15 milhões de mortos e mais 20 milhões de feridos. Agora, no centenário da I Guerra Mundial, os pesquisadores voltam os olhos para as vítimas esquecidas do conflito. Além da carnificina humana, as batalhas que se espalharam pela Europa dizimaram cerca de 8 milhões de cavalos, a principal força animal usada na agricultura na época. A cada dois homens atingidos por tiros, bombas e gases letais, um cavalo morreu.(...)». Continua aqui: Cavalos: as vítimas esquecidas da I Guerra Mundial - Ciência - Notícia - VEJA.com

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Onde tudo começou. A Sérvia e as memórias no olho do furacão

Com um singelo telegrama, umas linhas telegráficas, declarou o Império Austro-Hungaro guerra à Sérvia em forma de ultimato impossível - e que o governo sérvio recusou. E assim, com esta aparente displicência, se deu o tiro de partida para uma das maiores tragédias da humanidade - em rigor, o segundo tiro de partida, já que o primeiro tinha sido dado pelo anarquista radical sérvio Gavrilo Princip, ao assassinar o herdeiro do trono dos Habsburgo, dinastia reinante em Viena. Seja como for, os sérvios também não esquecem e, tal como os alemães (e todos os envolvidos, de resto...), recusam ser o bode expiatório da guerra. Assim, entre outras iniciativas, Belgrado acaba de ser inaugurada a exposição "A Primeira Guerra Mundial nos documentos do Arquivo da Sérvia", onde se reflete a sua visão dos factos. Ler aqui: A guerra que começou com um telegrama - EXAME.com

"Memorias e documentos: resistindo à guerra". Uma exposição na Torre do Tombo


O Arquivo Nacional da Torre do Tombo assinala o centenário da I Grande Guerra com a exposição "Memórias e documentos: resistindo à guerra" numa abordagem desenvolvida em núcleos temáticos abrangendo o (re)desenho político e geo-estratégico do mundo, a resistência aos efeitos da guerra vividos em Portugal, as imagens de guerra captadas pelo fotógrafo Arnaldo Garcês e as memórias da guerra perpetuadas nos monumentos aos mortos em combate.

Inauguração: quinta-feira, 27 de fevereiro, pelas 17h00

(link)

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Call for papers da revista Nação e Defesa

«A Grande Guerra ou Primeira Guerra Mundial (1914-1918) é consequência de rivalidades cruzadas entre as principais potências, quer na Europa, quer no resto do mundo, de carácter variado (ideológico, político, económico, imperial).

Interessa compreender e analisar, de forma crítica e inovadora, a situação política e estratégica de Portugal, no dealbar do século XX e como esta influenciou a decisão de intervir na contenda mundial em curso entre 1914 e 1918.

Neste contexto, convidamos todos os interessados a submeterem um artigo que se enquadre no tema genérico “Portugal na Grande Guerra – a Posição de Portugal no Mundo”.

Os artigos deverão ser enviados até 7 de Julho de 2014 para idn.publicacoes@defesa.pt »

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A Rússia na véspera da Guerra

«Em 2014, a população russa comemora centésimo aniversário do início da Primeira Guerra Mundial. Como o país passou os primeiros sete meses do ano antes do começo das atividades militares? O historiador Lev Lurie responde a esta pergunta.(...).». Continua aqui A vida na Rússia antes da Primeira Guerra Mundial | Gazeta Russa

domingo, 16 de fevereiro de 2014

A Índia e a memória relutante das colónias. A I Guerra como conflito de impérios coloniais

Num dos anteriores posts, falámos (ainda que ao de leve) na Nova Zelândia. A I Guerra, sendo Mundial (sim, ainda há quem ache que não foi), envolveu tropas de países de todos os continentes, não só por via de um cenário intrincado de alianças entre nações soberanas, mas também porque a I Guerra foi sobretudo um conflito entre potências coloniais, que mobilizaram todas as suas possessões imperiais para o esforço de guerra. 

Soldados indianos na Batalha do Somme, em julho de 1916.
Foto da coleção do Imperial War Museums (fonte)
Isto significa, por exemplo, que a Grã Bretanha tenha recorrido a contingentes ultramarinos dos quatro cantos do seu Império: Nova Zelândia, Austrália, Canadá, África do Sul e, com grande destaque em termos de tropas e baixas, a Índia. Em muitos aspetos estes países eram já autónomos, mas de uma forma ou de outra pertenciam à esfera de influência britânica, que mantinha controle, por exemplo, das respetivas políticas externas. Ainda hoje se mantêm nessa esfera de influência, constituindo a espinha dorsal da Commonwealth. Mas, sendo colónias, a sua importância não pode ser subestimada.

O caráter "imperial" desta singular guerra fica também patente, naturalmente, no envolvimento das principais colónias africanas portuguesas, Moçambique e Angola. Estes territórios foram palco de muitas batalhas e escaramuças com as forças alemãs, que procuravam manter e expandir as suas possessões africanas, sobretudo o Tanganica e o Sudoeste Africano - sendo de referir que Portugal também não se fez rogado na tentativa de manter e expandir, abrindo hostilidades no norte de Moçambique, com uma incursão ao Tanganica. Do lado português, estima-se que combateram cerca de 12 mil soldados africanos indígenas*: «O contingente português atingiu números próximos dos 20000 homens, entre as forças desembarcadas e o recrutamento local, com um efectivo, grosso modo , de 12000 africanos (12) sem contabilizar os aproximadamente 90000 carregadores (13).» (fonte)

O caso da Índia é particularmente importante no quadro global da guerra, quanto mais não seja, pela escala das forças nativas utilizadas e pela dimensão das baixas. E neste caso, ao contrário dos africanos sob domínio português, que serviram o exército português nos seus territórios natais, as tropas indianas serviram em locais tão distantes e inóspitos como o Médio Oriente e a Turquia (sobretudo no célebre estreito de Dardanelos, palco da desastrosa Campanha de Galípoli) contra o Império Otomano, bem como no Egito, África Oriental e nas trincheiras geladas e lamacentas do Norte da Europa. No total, cerca de um milhão e trezentos mil indianos foram mobilizados para o esforço de guerra e as Forças Expedicionárias Índianas sofreriam 74187 baixas mortais, a que se somam mais de 69 mil feridos (a Wikipedia refere um número ligeiramente inferior de feridos).

E no entanto, sendo este um episódio marcante da sua História recente, os indianos parecem não querer falar muito acerca do tema. Tema que em círculos nacionalistas é até algo embaraçoso. Do que tenho percebido, de resto, é um traço comum às ex-colónias ultramarinas, sejam portuguesas, sejam inglesas ou francesas: à exceção das ex-colónias com população de origem europeia/branca - Nova Zelândia, Canadá ou Austrália, que celebram e estudam com grande solenidade a sua participação neste conflito - a I Guerra é regra geral uma memória reprimida. Dá a ideia de que, para africanos ou asiáticos, a I Guerra foi um assunto de brancos, para o qual foram arrastados sem honra nem vontade. A I Guerra está, assim, intimamente associada a um passado de subjugação colonial, que não atrai as novas gerações, muito menos os espíritos mais nacionalistas.

O caso da Índia será, desta forma, paradigmático, não andando muito longe, julgamos, do que se poderia dizer hoje em dia acerca de Angola ou Moçambique - numa breve pesquisa, não encontrei, nem num nem noutro país, qualquer menção ao centenário da Guerra ou a eventuais eventos que o recordem, ou sequer homenagens aos soldados africanos mortos no conflito, é o silêncio absoluto. Em relação à Índia, então, como é sublinhado no artigo do The Times of India abaixo linkado: «For a hundred years, the story of this force had been nearly forgotten — the narrative of World War I has so far been predominantly white. The Indian story had to be told because it rarely happens that one nation's war is fought by another's armies. But not only did Britain downplay the contribution of these men but India, too, chose to ignore them. In fact, the nationalist voices in free India actively disowned parts of this history.(...)».

E no entanto, as coisas parecem estar a mudar, pelo menos na Índia, que recomeça a interessar-se por este evento brutal da sua história, e começa a investigar e a organizar de forma séria os arquivos dessas datas. Sobretudo pela mão do Centre for Armed Forces Historical Research, em Nova Deli, ou por instituições inglesas como o Brighton Museum & Art Gallery.

Soldado moçambicano da I Guerra Mundial (fonte)
«Sadly, when the survivors returned home, no hero's welcome awaited them. India had given full military, political and economic support (the country had gifted 100 million pounds to fund the war) to Britain anticipating dominion status and home rule in return. But once the war ended, the British were in no hurry to appease India. So, the returning army seemed to Indians like the Empire's instrument of oppression. But now, there is hope that the Indian soldier will get his due place in history.»

No contexto do mundo lusófono, será então curioso perceber o que é que Angola e Moçambique estão fazer (ou não) relativamente à memória da sua participação na I Guerra Mundial, e tendo em conta o pesado balanço - «(...) Mas o teatro de guerra em África foi o mais mortífero para os portugueses - 4811 militares morreram em Moçambique. No rescaldo da Grande Guerra, entre mortos, feridos e desaparecidos "36% dos mobilizados foram baixas", sublinha o tenente-general Mário de Oliveira Cardoso.» (fonte). 

Muitas daquelas baixas foram certamente soldados e carregadores locais, que constituíam grande parte das forças sob comando português, sobretudo oriundas de Moçambique, formadas em Companhias Indígenas Expedicionárias que foram também enviadas para Angola, Timor e Índia. Em tempo de centenário, e apesar de constituir uma memória exógena (anterior à nacionalidade), será, em suma, que o soldado africano, espécie de "carne para canhão" esquecida, também merecerá o seu «due place in history?»...


World War I, the India story retold - Times Of India


*A este respeito há algumas discrepâncias entre fontes, sendo que de acordo com números da História da Primeira República Portuguesa, a I Guerra em África envolveu ao longo dos quatro anos, cerca de 30 mil efetivos portugueses, mais de 10 mil dos quais nativos africanos. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Nem tudo foi mau?...


E eis uma perspetiva, digamos, curiosa, acerca da I Guerra. Designadamente do seu impacto no futuro. E falamos aqui de impacto positivo. Sim, positivo. Porque até no lodo nascem flores... Assim, em altura de centenário, o popular site neozelandês* Listverse, apresenta uma lista de dez benefícios que a Grande Guerra impulsionou ou gerou. E não, não foi só na área da tecnologia militar... A ver:
  • Cirurgia plástica
  • Psiquiatria
  • As Nações Unidas
  • A afirmação dos Estados Unidos da América**
  • Aviação
  • Proibição de Armas Químicas
  • Transfusões de sangue
  • Poesia e arte
  • Direitos das Mulheres
  • Disseminação da Democracia


* É de referir, já agora, que esta foi uma guerra mundial, não só porque se combateu em mares e continentes distantes, mas também porque envolveu tropas de muitos países dos quatro cantos do mundo. Um deles foi precisamente a Nova Zelândia, aliado natural da Grã Bretanha (de cujo império formalmente ainda fazia parte), que participou no esforço de guerra com cerca de cem mil homens! Incluindo mais de dois mil maoris. O saldo foi bem mais severo, de resto, para os neo zelandeses do que para Portugal, país europeu e mais próximo do epicentro da ação. Com uma população de apenas um milhão de pessoas em 1914, o pequeno arquipélago vizinho da Austrália, sofreu 18500 mortos e cerca de 40 mil feridos, em cenários tão distantes como o Somme (Norte de França) ou Galipoli (Turquia). O sacrifício neo zelândes, de resto, ainda hoje é encarado como um momento histórico de charneira para a entrada do país no Concerto das Nações.

** Antes da I Guerra, os EUA eram um país praticamente irrelevante no panorama global, ao ponto de os alemães descreverem com displicência o seu poderio militar como estando algures «entre a Bélgica e Portugal»... Com a destruição das potências continentais (Alemanha, Inglaterra, França, Rússia, Áustria-Húngria, Itália), o início do desmembramento dos impérios coloniais, aliado à dinâmica industrial que a guerra imprimiu à economia norte americana, os Estados Unidos surgiram finalmente como a potência internacional incontornável que ainda é hoje, poderio que seria determinante, por exemplo, vinte anos mais tarde na derrota do III Reich.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Assembleia da República celebra o Dia da Memória em Outubro

«A Assembleia da República vai ser o palco, no próximo mês de Outubro, do Dia da Memória - uma iniciativa que visa recolher documentos, objectos ou testemunhos da presença portuguesa na Primeira Guerra Mundial. Portugal junta-se assim a uma iniciativa que já se repetiu em vários países europeus, no ano em que se inicia a evocação do centenário do primeiro grande conflito do século xx - para o qual foram mobilizados mais de 100 mil portugueses.(...)». Continua aqui: Tem uma recordação da Grande Guerra? O parlamento quer registá-la - Pag 1 de 2 | iOnline

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A maior catástrofe que o mundo já viu e a questão da culpa. Quem foi responsável pela guerra? Um texto importante. Novos livros.

«June 28, 1914, Sarajevo, Bosnia. The Archduke Franz Ferdinand, heir to the multinational Habsburg realms, resplendent in the dress uniform of an Austrian cavalry general, but also absurd in his plumed headdress, was shot at close range by Gavrilo Princip, a local student dropout obsessed with the Serbian national cause. Sarajevo was one of history’s most purple passages: there was the drama of bungled security and hamfisted conspiracy; spectacle and gore; the play of intention and chance; the clash of generations and civilizations, of the old monarchical Europe and the modern terrorist cell. 

But of course the Sarajevo assassination captivates posterity for its consequences. Piqued in its prestige and fearful of the threat to its status as a great power by subversion fanned from Serbia, the Austro-Hungarian government delivered an ultimatum to its obstreperous little Balkan neighbor, demanding a say in the management of its internal affairs. 

Russia stepped in to protect its Serbian clients; the Germans supported their Austrian allies; the French marched to fulfill their treaty obligations to Russia; Great Britain honored its commitment to come to the aid of France. Within five weeks a great war had broken out. At the very least, this is a gripping tale. Sean McMeekin’s chronicle of these weeks in July 1914: Countdown to War is almost impossible to put down.

Thus was unleashed the calamitous conflict that, more than any other series of events, has shaped the world ever since; without it we can doubt that communism would have taken hold in Russia, fascism in Italy, and Nazism in Germany, or that global empires would have disintegrated so rapidly and so chaotically. A century on we still search for its causes, and very often, if possible, for people to blame. In the immediate aftermath of war that seemed clear to many: Germany, and especially its leaders, had been responsible; the Austrians too, as accomplices, in lesser degree. The Treaty of Versailles made this official, as the victorious powers there spoke of a “war imposed upon them by the aggression of Germany and her allies.” This was the notorious guilt clause used to justify severe “reparation” payments stretching far into the future. It was a widespread view, and ordinary Germans might have shared it if the vanquishers had not gone for the premise of collective responsibility, which undermined attempts to build a fresh German regime untainted by the past. (...).»

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

"A I Guerra Mundial seria hoje impossível na Europa" - Globo - DN

«Para compreender a Primeira Guerra Mundial é preciso entrecruzar três tempos: o tempo longo das rivalidades entre as grandes potências desde há muitas décadas na Europa, o tempo médio das tensões entre o início do século e 1914 (crise bosníaca, crises marroquinas, guerras nos Balcãs...) e a corrida às armas associadas àquelas e o tempo curto da crise do verão de 1914. É o conjunto destes três tempos que permite entender o conflito.(...)». Continua aqui: "A I Guerra Mundial seria hoje impossível na Europa" - Globo - DN

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

De noite é que é o inferno...

«De noite é que é o inferno. Ou se vai de patrulha, de gatas, de moca e bomba, caindo aqui, levantando-se acolá, ou se espera que sejam eles que venham encostar-nos o frio gume da baioneta à gorja, preparando-se nesse caso tudo para a recepção. Mas se é gás e se são tiros, uma trabuzanada de acordar os mortos, logo começa um chinfrim diabólico de latas e campainhas para que a gente se mascare. E os telefones retinem, os estafetas põem-se a andar e o SOS sobe ao céu, no vinco luminoso dos very-lights que ficam iluminando a terra toda até que se apagam e o mundo é apenas escuridão. À artilharia de lá responde a nossa, e ao longe, há por vezes a sanguinolenta mancha dos incêndios. Ouve-se o crac-crac das metralhadoras que o boche despeja e que nós despejamos. E transida, bafejando as mãos, sem sono, a gente escuta os ecos e o nosso coração doente é como um velho relógio tonto oscilando entre a saudade dos que estão longe e a ideia de morrer ali, armado e equipado, sonolento e triste, como um cão sem forças», Albino Forjaz Sampaio, oficial português na Flandres, citado na obra "Das Trincheiras com Saudade", de Isabel Pestana Marques (Esfera dos Livros, 2008)

A Primeira Guerra Mundial. Uma conferência em Lisboa

«O que foi a Primeira Guerra Mundial, quais as suas causas e como foi vivida pelos milhões de pessoas que, diretamente nas trincheiras, ou na retaguarda foram afetadas, é o tema amanhã em discussão no Instituto Francês em Portugal, em Lisboa, a partir das 19.00. Participam o antigo ministro e professor Nuno Severiano Teixeira e o académico e investigador francês Nicolas Offenstadt. 

A iniciativa insere-se num programa mais vasto de iniciativas que visam assinalar os cem anos do início da Primeira Guerra Mundial (28 julho de 1914-11 de novembro de 1918) e traz a Lisboa um dos mais relevantes investigadores franceses do tema, Nicolas Offenstadt, que publicou recentemente "La Grande Guerra. Le Carnet du Centenaire".(...)». Continua aqui: Revisitar a Primeira Guerra Mundial - Globo - DN

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Quem vive?". A Grande Guerra em Moçambique. Diários de campanha

"Kináni (Quem vive?)? Crónica de Guerra no Norte de Moçambique, 1917-1918", Cardoso Mirão, Lisboa, Livros Horizonte, 2001

Esta é a narrativa da campanha da I Guerra Mundial em Moçambique, pela voz de Cardoso Mirão, aí 2º sargento das forças portuguesas. Esta é uma parte da história muito pouco conhecida, tanto no diz respeito à participação portuguesa na I Guerra, muito centrada no palco europeu, como na formulação da ocupação colonial, então ainda muito incipiente em vastas zonas de Moçambique e inexistente noutras.


O livro é apaixonante, a descrição de uma campanha desorientada, que em pouco mais se traduziu do que numa longa e terrível caminhada pelo norte do país, e neste caso com quase inexistência de combates.

Trata-se de uma caminhada louca, ecoa-se o sofrimento inadjectivável de uma tropa errante, descomandada, desinformada, gradualmente desnorteada e logo desmoralizada. Sofrendo a inexistência de logística e a inadequação dos equipamentos (algo que este auto-retrato explicita). E tudo isto potenciado pela constante agressão da Natureza, os predadores, uma terrível fome, uma permanente sede e, acima de tudo, as doenças.

É comovente, ainda hoje, ler os lamentos do sargento sobre a situação das suas botas, faltando-lhe ainda meses de infindáveis caminhadas.

Como pano de fundo de toda essa situação, mas realmente apenas como pano de fundo, o opressivo temor do confronto com o corpo expedicionário alemão, uma pequena força de grande gabarito, comandada por um oficial verdadeiramente lendário, o o general Lettow-Vorbeck, a cuja se encontrava em constante movimento via Tanganyka, e que nunca veio a ser vencida.

Para quem conhece a zona (e eu tive o acaso nada fortuito de ler o livro durante uma estadia no Niassa, amplamente referenciado) pode tentar imaginar a dureza desta campanha.

É um grande livro sobre guerra, praticamente sem combates. Nele respira um antigo exército, de uma crueldade hierárquica extrema, que se julgaria apenas de Antigo Regime, no qual oficiais e soldados eram ainda de dois mundos, de duas ordens. E ainda os africanos, arregimentados como carregadores, escondidos num terceiro mundo.

Será interessante notar que tanto em Cabo Delgado como no Niassa há ainda a memória camponesa desta guerra dos "ma-germanes", difusamente datada numa época correspondente à real II Guerra Mundial. Efeitos da história local sobre a devastação provocada pela mobilização de milhares de carregadores, e sua extrema mortalidade, pelas forças em presença, alemãs, inglesas e portuguesas.

É pois um retrato espantoso. Da guerra e da sociedade que nela participava. Mas também uma visão especial de África. Não esta como a Ameaça, o Horror (a la Conrad). Mas mais como o palco desse Horror, um horror interno.

Um livro único no memorialismo português. E, mais uma vez, uma pergunta, como não filmar uma história destas?

Recensão de José Flávio Pimentel Teixeira (link) publicada com autorização do autor

domingo, 26 de janeiro de 2014

A I Guerra no Público. Um dossier imperdível

O jornal Público presenteia-nos, na edição de hoje, com um excelente dossier especial de oito páginas, sobre Portugal e a I Grande Guerra, de que daremos eco mais detalhado a seu tempo. Para já, vale a pena ler o artigo principal de Jorge Almeida Fernandes:

«Quando a Europa comemorou em 1994 os 80 anos da eclosão da Grande Guerra de 1914-18, fê-lo num estado de espírito muito particular — o da despedida do trágico século XX. Com o fim da União Soviética, encerrava-se uma era. A construção europeia acelerava-se e a UE preparava a integração do Leste, reunificando o Continente. Dominava a pax americana. Fukuyama publicava O Fim da História. Admitia-se uma “globalização feliz”. Apenas o regresso da palavra Sarajevo e a irrupção dos nacionalismos trazia alguma perturbação. Mas, sobretudo, tiravam-se as lições do “suicídio” de 1914 — um facto já muito distante. (...)». Continua aqui: Que podemos aprender hoje com a Europa de 1914? - PÚBLICO

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

África 1914-1918. A Grande Guerra esquecida

Como já foi referido aqui, embora a Alemanha só tivesse declarado guerra a Portugal em Fevereiro de 1916,em reação ao apresamento dos navios alemães nos portos portugueses, e o Corpo Expedicionário Português só tenha marchado para as trincheiras do norte de França e da Bélgica um ano depois, o nosso país já tinha entrado na Grande Guerra logo em 1914. 

É certo que, curiosamente, esta faceta da participação portuguesa na Guerra não é tão mediatizada ou estudada como a saga do CEP na Flandres, mas o exército português já combatia em 1914, de facto e com muito sangue suor e lágrimas, na frente africana. Em rigor, em várias frentes africanas, travando batalhas com tropas germânicas junto às fronteiras de Moçambique e Angola, onde o Império do Kaiser detinha as suas possessões coloniais (o Tanganica e o Sudoeste Africano Alemão). Foi no palco africano, aliás, que se registou a maioria das baixas nas tropas portuguesas no contexto da I Guerra Mundial - de cerca de dez mil mortos militares portugueses estimados, "apenas" cerca de um quarto terá tombado nos campos europeus. Isto é, também aqui os alemães esmagaram as forças portuguesas. Em África e na Europa, verificamos outra constante: a impreparação portuguesa, quer para doenças quer para a guerra.

No entanto, como em 1961, também em 1914 fomos rapidamente e em força para as principais colónias. Em Setembro de 1914, na sequência de um "raid" alemão a um posto fronteiriço no norte de Moçambique, partiu de Lisboa o primeiro contingente especial de 1527 soldados (grande parte deles vítimas pouco tempo depois por viroses tropicais). Em Outubro, seguiu para Angola uma segunda força expedicionária, sob o comando de Alves Roçadas (mais tarde general e último comandante do CEP no palco Europeu), com 1600 homens. O garboso Roçadas foi clamorosamente derrotado por uma força alemã numericamente inferior em dezembro de 1914 e teve logo depois que conter a revolta da população autóctone, galvanizada pelo desaire português.

Embarque de tropas para Angola (1914)


Em Moçambique o cenário não foi mais animador e, além das doenças e das sublevações dos locais, o exército português ia-se arrastando numa campanha dolorosa:


«Em Novembro de 1915 chegou a Moçambique uma nova força de 1543 homens, comandados por Moura Mendes. Essa 2ª força tinha como finalidade recuperar a ilha de Quionga, mas também devido a desorganização idêntica à da primeira força, só em 4 meses perdeu, por doença, metade dos efectivos. Só em Abril de 1916 a pequena ilha de Quionga foi recuperada.
Em finais de Junho de 1916 chega a Moçambique a 3ª força enviada de Portugal, constituída por 4642 homens comandados por Ferreira Gil, com a finalidade de passar o Rovuma e atacar as tropas alemães ao mesmo tempo que estas eram atacadas no Tanganica por forças inglesas, da Rodésia, da União Sul-Africana, do Quénia, do Congo Belga e da Índia. Esta 3ª força consegue passar o Rovuma e conquistar Nevala mas, logo de seguida, é derrotada no combate de Nevala, tendo que retirar novamente para Moçambique.
Em 1917 Portugal envia a 4ª força para Moçambique, esta constituída por 9786 homens e comandada por Sousa Rosa.
A Alemanha tinha na África Oriental, uma pequena força de 4000 askaris e 305 oficiais europeus, comandados pelo general Lettow Worbeck.
Este general alemão conseguiu sempre resistir aos ataques das forças inglesas, apesar de estas serem em número muito superior. Isto só foi possível devido a este general ter utilizado uma nova forma de guerra (guerrilha), não lhe interessando manter ou conquistar posições, mas sim manter o inimigo sempre ocupado, de modo que este não pudesse libertar soldados para enviar de volta à Europa.
Em Novembro de 1917, Lettow Worbeck passa o Rovuma e derrota as tropas portuguesas em Negomano, e percorre Moçambique sempre fugindo e derrotando as tropas (inglesas e portuguesas) que encontrava pelo caminho e provocando a revolta das populações locais contra os portugueses. Este general alemão acabou por voltar ao Tanganica.
Com o final da guerra na Europa, o exército alemão que se encontrava nessa altura na Rodésia, acabou por se render apesar de nunca ter sido derrotado.
Para Portugal ficaram, além das grandes derrotas militares, as revoltas das populações locais, que demoraram a ser reprimidas.» (fonte)

Como vimos, o envolvimento bélico português na Grande Guerra começou cedo e também começou mal. E como diz o povo, o que nasce mal... Seja como for, embora seja pouco ou nada gloriosa, é uma parte da história que merece ser mais e melhor contada. Uma das poucas obras de referência sobre este tema é «A Primeira Grande Guerra na África Portuguesa - Angola e Moçambique (1914-1918)» (Edição Cosmos/Instituto da Defesa Nacional, Janeiro de 2005), do historiador militar, Marco Fortunato Arrifes.


Infelizmente já não se encontra no circuito comercial, mas é possível encontrá-lo na generalidade das boas bibliotecas, sobretudo universitárias (ou talvez esteja ainda disponível aqui). Sobre este livro, permitimo-nos reproduzir um excerto de um artigo do historiador francês René Pélissier, autor que se tem debruçado particularmente sobre a história colonial e militar portuguesa. O artigo intitula-se "Sobreviver num mar de tinta", debruça-se sobre várias publicações da altura, uma delas a de Marco Arrifes, que merece o devido elogio e serve de pretexto para o historiador gaulês discorrer acerca desta guerra semi-esquecida:


«(...) Regressemos a um tema essencialmente lusófono com "A Primeira Grande Guerra na África Portuguesa", da autoria de um historiador oficial do Exército. O tema é um dos mais mal tratados pela historiografia portuguesa e, no entanto — caso único —, ao enviar dezenas de milhares de soldados metropolitanos para a África em 1914-1918, Portugal inverteu o movimento que mobilizou as tropas coloniais e imperiais no sentido de estas virem defender as metrópoles. Esta singularidade devia chamar a atenção dos historiadores estrangeiros especialistas da primeira Grande Guerra. Mas, como geralmente ignoram — salvo recentes excepções — o que fazia Portugal em Angola e em Moçambique, eles mantém um prudente silêncio sobre este assunto. Isto quer dizer que, se lessem este livro — caso dominassem a língua portuguesa —, poderiam, enfim, ter uma ideia clara das operações militares portuguesas nas suas ex-colónias? Não, no caso de Angola. Não, pois o autor não procura dar uma relação pormenorizada das actividades bélicas no terreno. O que lhe interessa são o contexto político, as infra-estruturas, a organização da máquina militar e, o que é completamente inovador, a vida quotidiana dos soldados, o soldo, a sexualidade, a logística, as relações entre soldados africanos e europeus. Tudo isto é útil e interessante, mas um leitor profano que goste de saber o que se passou na batalha de Môngua — a maior vitória (1915) dos portugueses em África — terá de procurar noutro sítio, nomeadamente no relatório oficial publicado, ou de recorrer aos testemunhos de participantes. Ou talvez, porque mais acessível, à obra de René Pélissier Les campagnes coloniales du Portugal (1844-1941), Edições Pygmalion/Flammarion, Paris, 2004.
Em compensação, Marco Fortunato Arrifes empregou muita energia a tentar encontrar estatísticas fiáveis sobre os efectivos e as perdas portugueses. Existe uma tal quantidade de números contraditórios que o leitor tem de resignar-se com aproximações — como para a guerra de 1961 a 1974 — quanto aos efectivos metropolitanos verdadeiramente enviados para a África (de 30 000 a 31 600, mais ou menos, entre 1914 e 1918). Trata-se de um esforço importante para um país como Portugal durante a primeira Grande Guerra. A bibliografia fornecida contém algumas entradas raras, mas não retoma integralmente as entradas indicadas nas notas. Em resumo, um trabalho original, sério, sem exageros nacionalistas. Falta aprofundar questões importantes, mas é já um grande passo em frente.
Outros tempos, outros hábitos. O que é certo é que os soldados de 1914-1918 não regressaram em peregrinação organizada, nos anos 1930-1950, aos locais das suas actividades africanas.
Ora, assistimos, desde há uns anos para cá, a uma espécie de turismo sentimental relativamente à Guiné e a Moçambique. Nada em relação a Angola? Antigos combatentes viajam, em grupo, na direcção da sua juventude, dos seus medos, dos seus sofrimentos, das guarnições abandonadas há mais de trinta anos. (...)», in Revista Análise Social, vol. XL (177), 2005, 925-945 (artigo integral, fonte).

China e Japão. Lições da História

Abe diz que Japão e China devem evitar erros de alemães e britânicos na 1ª Guerra | Mundo | Reuters

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

La Lys, ícone do desastre. Perspetivas críticas.

A Batalha de La Lys é, de todas as que marcaram a I Guerra Mundial, a que ficou mais profundamente gravada no imaginário português. No anterior post falou-se por alto de incompetência, e La Lys (designação do ribeiro belga perto do qual decorreu o confronto entre as divisões luso-britânicas e as tropas germânicas), embora não seja assim tão líquida a importância da incompetência para o desfecho trágico, é também um ícone da impreparação e ineficiência, quer do poder político em Lisboa, quer do Corpo Expedicionário Português (CEP), assolado já por doenças, deserções, falta de comando e um ambiente geral de grande desmoralização. 

Na madrugada do dia 9 de Abril de 1918, os alemães atacaram massivamente as posições portuguesas, chefiadas pelo General Gomes da Costa (com cerca de quinze mil soldados minimamente operacionais nas primeiras linhas), que foram rapidamente cilindradas pelo poderio vastamente superior do inimigo: «55 000 soldados do VI Exército alemão, agrupados em oito divisões sob o comando do general Ferdinand von Quast (1850-1934) atacaram, seguindo o plano da ofensiva que Erich Ludendorff concebeu com o objectivo de tomar Calais e Boulogne-sur-Mer» (fonte)

Prisioneiros portugueses do CEP num campo alemão, logo após a derrota de La Lys (imagem do Arquivo Federal Alemão, fonte)


A Wikipedia diz que esta batalha constituiu «a maior catástrofe militar portuguesa depois da batalha de Alcácer-Quibir, em 1578» e não andará longe da verdade. O rescaldo da batalha registou do lado português cerca de 7500 baixas, entre mortos (cerca de mil, mais de 300 oficiais), feridos e prisioneiros*. Embora haja quem prefira destacar que as tropas portuguesas conseguiram resistir 24 horas ao assalto alemão, é inapelável que a derrota foi clamorosa e que só se salvou a heroicidade do Soldado Milhões. É certo e justo destacar, mesmo assim, que o desaíre português teve atenuantes, desde logo a inferioridade numérica e de capacidade de fogo avassaladora. Mas mesmo quem o realce, não esconde as fragilidades:


«(...) As tropas estavam em França, mas a desmoralização era enorme. O número de oficiais que se encontravam nas duas divisões portuguesas estava muito abaixo do minimo necessário. As tropas portuguesas estavam desenquadradas, e faltavam-lhes oficiais para enquadrar as tropas e comanda-las convenientemente. O conceito de carne para canhão, em que se enviam homens uns contra os outros, ainda era normalmente aceite.

Mas a baixa política e a irresponsabilidade dos políticos da Primeira República , não deixou de ensombrar as tropas. Depois de se enviar o CEP, não se sabia exactamente o que fazer com ele. Além disso, Portugal não tinha dinheiro para organizar as duas divisões e estas tiveram que ser armadas pela Inglaterra, e também não tinha navios para enviar tropas o que fazia o país depender da Inglaterra.

Por outro lado os militares Britânicos, e Franceses, também não sabiam como responder aos desafios da guerra moderna. Lutavam com as tácticas de Napoleão, que implicavam o combate a curta distância, mas viam-se perante a primeira guerra industrial do mundo. A solução foi a conhecida, uma guerra de desgaste, em que ganha quem ficar vivo no fim.

Muitos dos comandos das forças portuguesas, também pautavam pelo desleixo e pela falta de capacidade. Uma tropa analfabeta, comandada por um punhado de oficiais, grande parte deles sem qualificações e apenas medianamente alfabetizados. Oficiais crentes no valor do soldado português, mas sem entender que o mundo muda e que as guerras, já em 1918, estavam a ser ganhas pela capacidade industrial, e pela qualidade técnica dos comandos militares.». (in Área Militar)

Portugueses nas trincheiras da Flandres
Ainda na perspetiva crítica, e também em jeito de "provocação" para reflexão inquieta(nte), achamos pertinente reproduzir aqui um artigo interessante e bem escrito de Luís Bonifácio, intitulado «O desastre de La lys - Portugal na I Grande Guerra», publicado num website comemorativo do centenário da República e que traduz um pouco da fama infame de La Lys que perdura na memória nacional: 

«Há 91 anos os soldados e sargentos que se encontravam nas trincheiras da Flandres, desataram a correr assim que viram os soldados do Exército Imperial Alemão a meio da terra de ninguém. Os seus oficiais, aqueles que ainda não haviam desertado a coberto de uma qualquer licença, já haviam há muito abandonado os seus confortáveis quartéis.

Para trás ficaram 7 000 baixas, entre mortos, feridos e prisioneiros.

Ao fim do dia apenas restou a vergonha de todo um corpo de exército relegado para trabalhos braçais na retaguarda até ao dia 11 de Novembro.

O desastre de La lys não foi nenhuma novidade. Estava anunciado havia muito. Mais precisamente desde que, em 1916 o governo de Afonso Costa, acossado por todos os lados, declara guerra à Alemanha, na tentativa de inventar um inimigo externo que desviasse as atenções dos problemas internos.

Nesse dia ficou traçado o destino de milhares de Portugueses: um exército depauperado, comandado por oficiais incompetentes, cuja promoção dependia das simpatias políticas, iniciou em Tancos uma preparação para uma guerra inexistente, chamada pomposamente de “Milagre de Tancos”. Esse “Milagre”, vendido pelos jacobinos republicanos à opinião pública, como os milagres da Igreja do Reino de Deus, terminou assim que os membros do Corpo Expedicionário Português (CEP), cheios de Febre Tifóide desembarcaram em Brest, obrigando os aliados a confiná-los em quarentena afim de evitar uma epidemia catastrófica. O horror do aliados aumentou ainda mais, quando descobriram que todos os militares dos regimentos de metralhadoras, desconheciam em absoluto o funcionamento da metralhadora Lewis, o padrão dos aliados, e que os artilheiros ficavam embasbacados com a visão de uma peça de grande calibre.

Nos campos da Flandres teve de ser realizado novamente e a partir do zero, o treino para a guerra de trincheiras.

Sem meios para assistir o exército em França (Portugal apenas tinha dois velhos navios de transporte e nenhum de escolta), e dependente da boa vontade e paciência Britânica, o CEP ficou entregue à sua sorte, sem material nem reforços assim que começou o transporte do exército Norte-Americano para a Europa, fazendo com que os pobres praças Portugueses apodrecessem na lama e frio das trincheiras durante oito meses, quando os seus aliados e inimigos realizavam turnos de 30 dias.

Os oficias, esses, estiveram sempre bem instalados, atrás de secretárias, sempre com licenças para passeatas em Paris-Plage. Aqueles com boas ligações políticas conseguiam uma licença para visitar a família em Portugal, o que sempre significava uma viagem de ida sem volta.

Não admira por isso que, na madrugada de 9 de Abril de 1918, os praças Portugueses tenham atirado as espingardas para o chão, e fugido.

Foi a corrida pelas suas vidas. Foi a única coisa honesta que podiam ter feito.

Fugir a sete pés era a única coisa que uma República, que pouco ou nada se importou com eles, merecia» (fonte)



* Há autores que consideram estes números bastante inflacionados, apontando para baixas portuguesas em La Lys bem mais baixas, da ordem das poucas centenas de mortos. É, pelo menos, a conclusão da historiadora Isabel Pestana Marques, autora da obra «Das trincheiras com saudade» (a Esfera dos Livros, 2008). Em declarações à agência Lusa, por ocasião do lançamento do seu livro, sublinhou que «Portugal participou na I Guerra (1914-1918) fundamentalmente para «legitimação da República e para o seu prestígio, para procurar fazer esquecer internacionalmente o regicídio (1908) e unificar os portugueses pela causa da guerra, o que falhou». A participação portuguesa está, na avaliação da historiadora, muito mistificada, desde logo pela mortandade que afirma não ter não existido e pelo mito do «soldado desconhecido». Segundo a historiadora, morreram dois mil militares portugueses na Europa, 300 deles na batalha de La Lys, muito abaixo dos números divulgados, e seis mil foram feitos prisioneiros. «Inflacionámos os números para obtermos mais dinheiro das indemnizações de guerra», indicou a investigadora.» (fonte