sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Uma guerra sem (poderes) inocentes

A Temas&Debates e o Círculo de Leitores, como já aqui foi referido neste blogue, colocaram já no mercado livreiro português a última obra da historiadora canadiana Margaret MacMillan - bisneta do primeiro-ministro britânico à altura da I Guerra, David Lloyd George -, um livro que tem dado muito que falar e que tem marcado o tom no sentido de uma nova leitura em relação à I Guerra e sobretudo às suas causas mais imediatas. A "culpa", como se perceberá, é bem mais disseminada do que parece e os alemães não são, definitivamente, os únicos "maus" de uma "fita" em que é difícil encontrar inocentes...

Segundo a autora de «A Guerra que acabou com a Paz», que passa a pente fino os catorze anos que precederam o conflito e transcende o habitual maniqueismo anti-germânico, «Parece-me que a maior responsabilidade é imputável à determinação insensata da Áustria-Hungria em destruir a Sérvia em 1914, à decisão da Alemanha no sentido de a apoiar totalmente e à impaciência da Rússia por mobilizar". No mesmo parágrafo, a autora defende ainda que a França e a Grã-Bretanha não desejavam a Guerra, «embora seja possível afirmar que poderiam ter-se esforçado mais para a impedir (...)». Continua aqui: Margaret MacMillan explica como a Europa começou a I Guerra Mundial | Cultura | Diário Digital

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Holocausto equino

«Ao fim dos quatro anos da guerra que começou em 1914, o mundo contabilizava suas vítimas: 15 milhões de mortos e mais 20 milhões de feridos. Agora, no centenário da I Guerra Mundial, os pesquisadores voltam os olhos para as vítimas esquecidas do conflito. Além da carnificina humana, as batalhas que se espalharam pela Europa dizimaram cerca de 8 milhões de cavalos, a principal força animal usada na agricultura na época. A cada dois homens atingidos por tiros, bombas e gases letais, um cavalo morreu.(...)». Continua aqui: Cavalos: as vítimas esquecidas da I Guerra Mundial - Ciência - Notícia - VEJA.com

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Onde tudo começou. A Sérvia e as memórias no olho do furacão

Com um singelo telegrama, umas linhas telegráficas, declarou o Império Austro-Hungaro guerra à Sérvia em forma de ultimato impossível - e que o governo sérvio recusou. E assim, com esta aparente displicência, se deu o tiro de partida para uma das maiores tragédias da humanidade - em rigor, o segundo tiro de partida, já que o primeiro tinha sido dado pelo anarquista radical sérvio Gavrilo Princip, ao assassinar o herdeiro do trono dos Habsburgo, dinastia reinante em Viena. Seja como for, os sérvios também não esquecem e, tal como os alemães (e todos os envolvidos, de resto...), recusam ser o bode expiatório da guerra. Assim, entre outras iniciativas, Belgrado acaba de ser inaugurada a exposição "A Primeira Guerra Mundial nos documentos do Arquivo da Sérvia", onde se reflete a sua visão dos factos. Ler aqui: A guerra que começou com um telegrama - EXAME.com

"Memorias e documentos: resistindo à guerra". Uma exposição na Torre do Tombo


O Arquivo Nacional da Torre do Tombo assinala o centenário da I Grande Guerra com a exposição "Memórias e documentos: resistindo à guerra" numa abordagem desenvolvida em núcleos temáticos abrangendo o (re)desenho político e geo-estratégico do mundo, a resistência aos efeitos da guerra vividos em Portugal, as imagens de guerra captadas pelo fotógrafo Arnaldo Garcês e as memórias da guerra perpetuadas nos monumentos aos mortos em combate.

Inauguração: quinta-feira, 27 de fevereiro, pelas 17h00

(link)

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Call for papers da revista Nação e Defesa

«A Grande Guerra ou Primeira Guerra Mundial (1914-1918) é consequência de rivalidades cruzadas entre as principais potências, quer na Europa, quer no resto do mundo, de carácter variado (ideológico, político, económico, imperial).

Interessa compreender e analisar, de forma crítica e inovadora, a situação política e estratégica de Portugal, no dealbar do século XX e como esta influenciou a decisão de intervir na contenda mundial em curso entre 1914 e 1918.

Neste contexto, convidamos todos os interessados a submeterem um artigo que se enquadre no tema genérico “Portugal na Grande Guerra – a Posição de Portugal no Mundo”.

Os artigos deverão ser enviados até 7 de Julho de 2014 para idn.publicacoes@defesa.pt »

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A Rússia na véspera da Guerra

«Em 2014, a população russa comemora centésimo aniversário do início da Primeira Guerra Mundial. Como o país passou os primeiros sete meses do ano antes do começo das atividades militares? O historiador Lev Lurie responde a esta pergunta.(...).». Continua aqui A vida na Rússia antes da Primeira Guerra Mundial | Gazeta Russa

domingo, 16 de fevereiro de 2014

A Índia e a memória relutante das colónias. A I Guerra como conflito de impérios coloniais

Num dos anteriores posts, falámos (ainda que ao de leve) na Nova Zelândia. A I Guerra, sendo Mundial (sim, ainda há quem ache que não foi), envolveu tropas de países de todos os continentes, não só por via de um cenário intrincado de alianças entre nações soberanas, mas também porque a I Guerra foi sobretudo um conflito entre potências coloniais, que mobilizaram todas as suas possessões imperiais para o esforço de guerra. 

Soldados indianos na Batalha do Somme, em julho de 1916.
Foto da coleção do Imperial War Museums (fonte)
Isto significa, por exemplo, que a Grã Bretanha tenha recorrido a contingentes ultramarinos dos quatro cantos do seu Império: Nova Zelândia, Austrália, Canadá, África do Sul e, com grande destaque em termos de tropas e baixas, a Índia. Em muitos aspetos estes países eram já autónomos, mas de uma forma ou de outra pertenciam à esfera de influência britânica, que mantinha controle, por exemplo, das respetivas políticas externas. Ainda hoje se mantêm nessa esfera de influência, constituindo a espinha dorsal da Commonwealth. Mas, sendo colónias, a sua importância não pode ser subestimada.

O caráter "imperial" desta singular guerra fica também patente, naturalmente, no envolvimento das principais colónias africanas portuguesas, Moçambique e Angola. Estes territórios foram palco de muitas batalhas e escaramuças com as forças alemãs, que procuravam manter e expandir as suas possessões africanas, sobretudo o Tanganica e o Sudoeste Africano - sendo de referir que Portugal também não se fez rogado na tentativa de manter e expandir, abrindo hostilidades no norte de Moçambique, com uma incursão ao Tanganica. Do lado português, estima-se que combateram cerca de 12 mil soldados africanos indígenas*: «O contingente português atingiu números próximos dos 20000 homens, entre as forças desembarcadas e o recrutamento local, com um efectivo, grosso modo , de 12000 africanos (12) sem contabilizar os aproximadamente 90000 carregadores (13).» (fonte)

O caso da Índia é particularmente importante no quadro global da guerra, quanto mais não seja, pela escala das forças nativas utilizadas e pela dimensão das baixas. E neste caso, ao contrário dos africanos sob domínio português, que serviram o exército português nos seus territórios natais, as tropas indianas serviram em locais tão distantes e inóspitos como o Médio Oriente e a Turquia (sobretudo no célebre estreito de Dardanelos, palco da desastrosa Campanha de Galípoli) contra o Império Otomano, bem como no Egito, África Oriental e nas trincheiras geladas e lamacentas do Norte da Europa. No total, cerca de um milhão e trezentos mil indianos foram mobilizados para o esforço de guerra e as Forças Expedicionárias Índianas sofreriam 74187 baixas mortais, a que se somam mais de 69 mil feridos (a Wikipedia refere um número ligeiramente inferior de feridos).

E no entanto, sendo este um episódio marcante da sua História recente, os indianos parecem não querer falar muito acerca do tema. Tema que em círculos nacionalistas é até algo embaraçoso. Do que tenho percebido, de resto, é um traço comum às ex-colónias ultramarinas, sejam portuguesas, sejam inglesas ou francesas: à exceção das ex-colónias com população de origem europeia/branca - Nova Zelândia, Canadá ou Austrália, que celebram e estudam com grande solenidade a sua participação neste conflito - a I Guerra é regra geral uma memória reprimida. Dá a ideia de que, para africanos ou asiáticos, a I Guerra foi um assunto de brancos, para o qual foram arrastados sem honra nem vontade. A I Guerra está, assim, intimamente associada a um passado de subjugação colonial, que não atrai as novas gerações, muito menos os espíritos mais nacionalistas.

O caso da Índia será, desta forma, paradigmático, não andando muito longe, julgamos, do que se poderia dizer hoje em dia acerca de Angola ou Moçambique - numa breve pesquisa, não encontrei, nem num nem noutro país, qualquer menção ao centenário da Guerra ou a eventuais eventos que o recordem, ou sequer homenagens aos soldados africanos mortos no conflito, é o silêncio absoluto. Em relação à Índia, então, como é sublinhado no artigo do The Times of India abaixo linkado: «For a hundred years, the story of this force had been nearly forgotten — the narrative of World War I has so far been predominantly white. The Indian story had to be told because it rarely happens that one nation's war is fought by another's armies. But not only did Britain downplay the contribution of these men but India, too, chose to ignore them. In fact, the nationalist voices in free India actively disowned parts of this history.(...)».

E no entanto, as coisas parecem estar a mudar, pelo menos na Índia, que recomeça a interessar-se por este evento brutal da sua história, e começa a investigar e a organizar de forma séria os arquivos dessas datas. Sobretudo pela mão do Centre for Armed Forces Historical Research, em Nova Deli, ou por instituições inglesas como o Brighton Museum & Art Gallery.

Soldado moçambicano da I Guerra Mundial (fonte)
«Sadly, when the survivors returned home, no hero's welcome awaited them. India had given full military, political and economic support (the country had gifted 100 million pounds to fund the war) to Britain anticipating dominion status and home rule in return. But once the war ended, the British were in no hurry to appease India. So, the returning army seemed to Indians like the Empire's instrument of oppression. But now, there is hope that the Indian soldier will get his due place in history.»

No contexto do mundo lusófono, será então curioso perceber o que é que Angola e Moçambique estão fazer (ou não) relativamente à memória da sua participação na I Guerra Mundial, e tendo em conta o pesado balanço - «(...) Mas o teatro de guerra em África foi o mais mortífero para os portugueses - 4811 militares morreram em Moçambique. No rescaldo da Grande Guerra, entre mortos, feridos e desaparecidos "36% dos mobilizados foram baixas", sublinha o tenente-general Mário de Oliveira Cardoso.» (fonte). 

Muitas daquelas baixas foram certamente soldados e carregadores locais, que constituíam grande parte das forças sob comando português, sobretudo oriundas de Moçambique, formadas em Companhias Indígenas Expedicionárias que foram também enviadas para Angola, Timor e Índia. Em tempo de centenário, e apesar de constituir uma memória exógena (anterior à nacionalidade), será, em suma, que o soldado africano, espécie de "carne para canhão" esquecida, também merecerá o seu «due place in history?»...


World War I, the India story retold - Times Of India


*A este respeito há algumas discrepâncias entre fontes, sendo que de acordo com números da História da Primeira República Portuguesa, a I Guerra em África envolveu ao longo dos quatro anos, cerca de 30 mil efetivos portugueses, mais de 10 mil dos quais nativos africanos. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Nem tudo foi mau?...


E eis uma perspetiva, digamos, curiosa, acerca da I Guerra. Designadamente do seu impacto no futuro. E falamos aqui de impacto positivo. Sim, positivo. Porque até no lodo nascem flores... Assim, em altura de centenário, o popular site neozelandês* Listverse, apresenta uma lista de dez benefícios que a Grande Guerra impulsionou ou gerou. E não, não foi só na área da tecnologia militar... A ver:
  • Cirurgia plástica
  • Psiquiatria
  • As Nações Unidas
  • A afirmação dos Estados Unidos da América**
  • Aviação
  • Proibição de Armas Químicas
  • Transfusões de sangue
  • Poesia e arte
  • Direitos das Mulheres
  • Disseminação da Democracia


* É de referir, já agora, que esta foi uma guerra mundial, não só porque se combateu em mares e continentes distantes, mas também porque envolveu tropas de muitos países dos quatro cantos do mundo. Um deles foi precisamente a Nova Zelândia, aliado natural da Grã Bretanha (de cujo império formalmente ainda fazia parte), que participou no esforço de guerra com cerca de cem mil homens! Incluindo mais de dois mil maoris. O saldo foi bem mais severo, de resto, para os neo zelandeses do que para Portugal, país europeu e mais próximo do epicentro da ação. Com uma população de apenas um milhão de pessoas em 1914, o pequeno arquipélago vizinho da Austrália, sofreu 18500 mortos e cerca de 40 mil feridos, em cenários tão distantes como o Somme (Norte de França) ou Galipoli (Turquia). O sacrifício neo zelândes, de resto, ainda hoje é encarado como um momento histórico de charneira para a entrada do país no Concerto das Nações.

** Antes da I Guerra, os EUA eram um país praticamente irrelevante no panorama global, ao ponto de os alemães descreverem com displicência o seu poderio militar como estando algures «entre a Bélgica e Portugal»... Com a destruição das potências continentais (Alemanha, Inglaterra, França, Rússia, Áustria-Húngria, Itália), o início do desmembramento dos impérios coloniais, aliado à dinâmica industrial que a guerra imprimiu à economia norte americana, os Estados Unidos surgiram finalmente como a potência internacional incontornável que ainda é hoje, poderio que seria determinante, por exemplo, vinte anos mais tarde na derrota do III Reich.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Assembleia da República celebra o Dia da Memória em Outubro

«A Assembleia da República vai ser o palco, no próximo mês de Outubro, do Dia da Memória - uma iniciativa que visa recolher documentos, objectos ou testemunhos da presença portuguesa na Primeira Guerra Mundial. Portugal junta-se assim a uma iniciativa que já se repetiu em vários países europeus, no ano em que se inicia a evocação do centenário do primeiro grande conflito do século xx - para o qual foram mobilizados mais de 100 mil portugueses.(...)». Continua aqui: Tem uma recordação da Grande Guerra? O parlamento quer registá-la - Pag 1 de 2 | iOnline