quinta-feira, 31 de julho de 2014

Uma Guerra que o século XX português tudo fez para esquecer

A I Guerra Mundial não foi, definitivamente, uma gesta gloriosa para Portugal. A participação nacional nos vários palcos do conflito, em África ou na Europa, teve raros momentos de glória e regra geral saldou-se por um desastre. Seja nos campos de batalha, seja ao expor as fragilidades gritantes das nossas Forças Armadas, impreparadas e desorganizadas, sem dúvida afetadas pelo caótico clima político da I República, que só entre 1914 e 1919 nos deu nove governos nove. Em suma, foi literalmente para esquecer.

Esse esquecimento foi facilitado e prolongar-se-ia pelo Estado Novo, que durante quarenta anos tudo fez para não se falar muito no assunto. E assim (não) se fez: nem nos jornais, nem nas artes, nem na Academia, a palavra de ordem foi o silêncio. A narrativa oficial do regime era a glória do Império, a História Pátria era uma sucessão de heróis, conquistas e vitórias e na escola falava-se apenas por alto dos mártires das trincheiras (regra geral esquecendo-se África e glorificando o desaire do Corpo Expedicionário na Flandres), em diversas cidades foram erigidos monumentos aos mortos da Grande Guerra, empreitadas promovidas sobretudo por comissões de antigos combatentes, mas para todos os efeitos a nossa passagem por essa guerra foi remetida para o arquivo dos assuntos embaraçosos. E isto é particularmente evidente, por exemplo, no cinema.

De facto, pelo que pudemos perceber, apenas um (1!) filme português do século XX aborda a presença portuguesa na I Guerra, e são apenas vinte minutos inseridos numa comédia romântica... Trata-se da longa metragem "João Ratão", de 1940, um filme de Jorge Brum do Canto, com António Silva, Óscar de Lemos e Maria Domingas nos papéis principais. Segundo informação da RTP, trata-se de uma «comédia musical como raro exemplo da participação portuguesa na I Grande Guerra, única em representação ficcional. Para tal, foram construídos - nos estúdios da Tobis Portuguesa - um abrigo subterrâneo, uma trincheira e as linhas alemãs, por soldados do exército sob orientação de oficiais.»

A descrição de José de Matos-Cruz: «A partir de uma opereta, a história amorosa dum soldado português, João Ratão, que regressa da frente de batalha na Flandres, sendo envolvido em intrigas motivadas pela inveja, quanto a Vitória, uma rapariga do povo que namorara através de cartas escritas por outros... Evocação do patético cenário da guerra (1914-18), e a faina dos madeireiros, no deslumbrante Vale do Vouga.» (fonte)

O filme está na íntegra no You Tube:

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