terça-feira, 8 de março de 2016

Uma excelente entrevista com a historiadora Ana Paula Pires

Portugal oficialmente entrou na Primeira Guerra Mundial a 9 de março de 1916. O que aconteceu nessa data?

Aconteceu a declaração de guerra da Alemanha, na sequência da apreensão dos navios de guerra alemães e austríacos que estavam fundeados em portos portugueses desde a entrada da Alemanha na guerra. Portugal resolveu nessa altura, face às dificuldades que tinha nos abastecimentos e no transporte, tomar para si os navios.

É Portugal, então, que tem a ação que desencadeou a guerra?

Sim. Mas é uma iniciativa escudada pela Grã-Bretanha. Portugal já vinha sendo pressionado desde 1915 no sentido de tomar esses navios. Temos de olhar para o cenário de guerra internacional e era uma altura em que os aliados estavam numa situação complicada na Flandres.

Portugal estava a ser pressionado pelo velho aliado a entrar na guerra?

Não tanto a entrar na guerra. Era mais para requisitar os navios. Porque no íntimo da diplomacia britânica nunca se pensou que essa tomada de navios pudesse dar numa declaração de guerra.
Contudo, Portugal já tinha combatido a Alemanha em África.
Esse é um cenário pouco conhecido e faz impressão às pessoas perceber como é que nós só entrámos na guerra em 1916 se já tínhamos tropas a combater em África. Uma das preocupações da diplomacia republicana foi salvaguardar o património colonial. Há um envio de tropas logo em setembro de 1914.

Estamos a falar do Sul de Angola e do Norte de Moçambique, fronteiriços com colónias alemãs…

Exatamente.

Os alemães tinham atacado em África?

Não, o que aconteceu foi uma coisa bastante paradigmática e exemplificativa daquilo que foi a política portuguesa. Portugal é o único país envolvido na guerra que tem nesta fase inicial uma declaração de não neutralidade e não beligerância. Portanto não é neutral nem é beligerante. A pedido da aliança britânica, Portugal tinha tido este estatuto ambíguo. Logo nesses meses são enviados militares para Angola e Moçambique porque os territórios, ainda antes da declaração de guerra, já tinham sido alvo de cobiça e de disputa por parte da Grã-Bretanha e da Alemanha. Portanto, o governo português percebeu rapidamente que, se a guerra alastrasse às colónias, os territórios poderiam estar em perigo.

Continua aqui

Sem comentários:

Enviar um comentário